De acordo com a tradição a mãe tem estado por trás do bom êxito escolar e tem sido culpada pelo fracasso escolar. Quem não conhece o caso, comum no âmbito das famílias de classe média e das escolas particulares, da mãe que acompanha assiduamente o aprendizado e o rendimento escolar dos filhos, que organiza seus horários de estudo, verifica o dever de casa diariamente, conhece professores e participa das reuniões escolares?
Quem não conhece o discurso, frequente na esfera da escola pública que atende às famílias de baixa renda, do docente frustrado com as dificuldades de aprendizagem dos estudantes e que reclama da falta de cooperação dos pais?
Sabemos que sucesso escolar tem dependido, em grande parte, do apoio direto e metódico da família que investe nos filhos, compensando tanto dificuldades individuais quanto falhas escolares. Trata-se, em geral, de família dotada de recursos econômicos e culturais. A família que está por trás do sucesso escolar, salvo exceções, ou conta com uma mãe em tempo integral ou uma supermãe, no caso daquelas que trabalham muitas horas desempenhando o papel de professora dos filhos em casa, ou contratando professoras particulares para as chamadas aulas de reforço escolar e até mesmo psicólogas e psicopedagogas, nos casos mais difíceis.
As escolas têm contado com a contribuição acadêmica da família de duas maneiras: (1) construindo o currículo (e o sucesso escolar) tacitamente com base no capital cultural similar herdado pelos alunos, isto é, com base no sistema de disposições cognitivas adquiridas na socialização primária ou educação doméstica, o que supõe afinidade cultural entre escola e família (Bourdieu, 1977; Bourdieu, Passeron, 1977); e (2) enviando o dever de casa de modo a capitalizar explicitamente o investimento dos pais, o que requer certas condições materiais e simbólicas, isto é, tempo livre, recursos econômicos (para equipar o lar com livros, computadores, contratar professores particulares) e adesão ao papel de professor, tradicionalmente assumido pela mãe (Carvalho, 1997).
Por ser considerado natural, o apoio da família ao sucesso escolar ainda permanece mais subentendido do que explícito na pesquisa e política educacional, bem como na prática escolar. Igualmente subentendido permanecem as relações de classe e, sobretudo, de gênero, que compõem os modelos de família que conduzem ao sucesso ou ao fracasso escolar.
No caso da escola pública, reconhece-se que os baixos níveis de escolaridade e renda de sua clientela desestimulam tanto a participação dos pais nas reuniões escolares quanto a adoção de deveres de casa. Agora, porém, o modelo de envolvimento dos pais na escola está sendo assimilado no contexto da atual tendência à descentralização da gestão educacional e melhoria da produtividade e qualidade escolar no sistema de ensino público.
Com efeito, a retórica liberal do Banco Mundial está vendendo aqui a idéia da necessidade do apoio dos pais e da comunidade, bem como da maior freqüência dos deveres de casa, como. Fatores determinantes da eficácia escolar. (Heneveld, 1994, p. 6).
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