Jesus apresenta a realidade da dependência do ramo em relação à árvore. Ele somente dá fruto se for alimentado pelo tronco. Ao contrário, não serve a não ser para ser queimado ou jogado fora (Cf. Jo 15, 1-8). Nossa realidade de seres criados é assim. Sem a dependência de Deus, não somos capazes de realizar o bem, mesmo independentemente de nossa vontade. Nossa vida é alimentada pela presença do Criador, qual uma criança segura pela mão da mãe ou do pai ou de quem por eles. Podemos, posteriormente, na independência e auto-suficiência, seguir por caminhos até contrastantes em relação aos desejados por quem nos transmitiu a vida.
Mas, se dermos cabeçada ou nos embrenharmos por rumos que não nos levam a nada, depende de nós mesmos. Deus, como nos ama, deixa-nos buscar o destino de nossa opção, apesar de Ele não nos abandonar no processo de escolha. Estimula-nos a acertar o caminho mais apto à nossa própria realização, apesar de termos de discernir entre propostas do bem ou do mal. Nem sempre o mais prazeroso no momento será o de mais valia. A propaganda maior estimula nossos sentidos e o intelecto para nos sentirmos mais gratificados sensorialmente e auto-suficientes em relação a Deus. Caímos com frequência na escravidão dos sentidos e de nós mesmos, sem vislumbrarmos libertação.
Deus nos propõe o caminho de dependência, qual ramo do tronco, mas tendo a seiva vital que nos faz revigorados. O próprio Jesus fala que, sem Ele, nada podemos fazer. Nossa realização humana, em verdade, só se dá com nossa mão segura na de Deus. Nossa liberdade só se dá na dependência de Deus, que é plenamente realizadora para nós. A história do filho pródigo é bem elucidativa para entendermos que a liberdade mal usada nos tira da ligação com o Senhor.
Em Maria, a mãe do Salvador, vemos um exemplo concreto de ligação íntima com Deus, que a tornou plena em graça. Deus a escolheu para ele vir como um de nós e nos apresentar o caminho de realização plena. Ensinou-nos o uso da liberdade ligada à sua fonte. Sem bebermos da fonte do amor de Deus, não somos capazes de encontrar a razão de ser da vida. O amor de Maria foi embebido sempre na fonte do amor do Criador. Agora, mãe do Filho de Deus, somente pode nos indicar a razão de ser da vida no amor emanado do Pai e mostrado de modo humanizado por seu filho.
Por isso, o amor materno de Maria é banhado no amor de seu filho, que é o Filho de Deus. Aprendemos com ela a viver como membros da família de Deus na aceitação de, também nós, vivermos nessa fonte e realizarmos o projeto divino em nós. A dependência de Deus, então, nos dá todo o vigor e a razão de viver, focalizando o sentido da vida na direção de Cristo.
Apesar de tanta religiosidade manifestada por maiorias, percebemos muita desconexão entre o contemplado ou sentido em devoções religiosas e sua ligação com postura ética e vivência de valores vislumbrados com a manifestação experimentada no sentimento da fé. A verdadeira dependência libertadora de Deus em Maria a fez viver a coerência de sua missão com o amor de seu Senhor e filho. Oxalá todos pudéssemos imitar Maria com seu amor de Mãe para termos uma sociedade de pessoas coerentes com a fé.
Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
por
Arquidiocese de Mariana/MG
Fonte: www.comunidadeshalom.org.br
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