domingo, 30 de março de 2008

Mulheres dos grupos étnicos



Índias, ciganas e tantas outras mulheres de sociedades étnicas em minoria têm pela frente a luta contra o preconceito dentro e fora do grupo


Por Letícia Veloso


No Brasil a comunidade indígena é considerada uma minoria étnica e, como a maior parte das minorias, sofre com a escassez de políticas públicas que incluem direitos básicos garantidos por lei.Neste contexto, estão as mulheres dos vários grupos indígenas que ocupam o território nacional, com seus hábitos, dialetos e costumes peculiares.

No âmbito do mercado de trabalho, há de se considerar a parcela de mulheres indígenas que exercem atividades profissionais,além da aldeia.Não se trata de uma quantidade considerável, pelo contrário, poucas dessas mulheres conseguem oportunidades de crescimento profissional.

Nota-se que as mulheres provenientes de grupos étnicos em minoria tendem a enfrentar preconceitos dobrados, se comparadas à população predominante. Basta partir do pressuposto de “exoticidade”,atribuída a culturas como indígena e cigana.No caso do povo indígena, torna-se um paradigma para a sociedade brasileira aceitar o índio como cidadão e, ignorar a visão romântica do Kaiapó nu correndo pelas matas.

Em relação às ciganas, o exótico persiste agregado ao preconceito. Não significa que a índia está isenta de sofrer discriminação, mas, no caso do povo cigano, a aversão existe no mundo inteiro e, perdura por séculos.Desde que chegaram à Europa, provavelmente vindos da Índia, causaram repúdio por onde se instalaram. Eram chamados de ladrões, assassinos e trambiqueiros. As mulheres ciganas eram tidas como bruxas, pervertidas e imorais.

Poucos têm conhecimento de que as ciganas fazem parte uma sociedade patriarcal, na qual o casamento é arranjado pelos pais e a noiva passa a pertencer à família do marido. São cultivados valores como respeito aos mais velhos, virgindade antes do matrimônio e fidelidade conjugal.Uma das obrigações atribuídas às mulheres incluem a leitura de mãos e o uso obrigatório do lenço na cabeça, em se tratando das casadas. Para a cultura cigana, a não-utilização do lenço significa desrespeito ao esposo.

Com base na organização social vigente na cultura cigana, dificilmente as mulheres terão oportunidades de desenvolvimento profissional.É inusitado ver uma cigana pegar ônibus todos os dias para cumprir a jornada de trabalho.Será que o preconceito deixaria que uma moça, assumidamente cigana, com os trajes típicos da cultura, fosse contratada?Ou será que para conseguir o emprego a mulher teria de negar as próprias origens?