sábado, 14 de março de 2009

Pelo doce e estranho mundo de Olhinhos de Gato


Olhinhos de Gato nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901, filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, foi a única sobrevivente dos seus quatro irmãos. Olhinhos de Gato perdeu o pai antes mesmo de nascer e sua mãe foi ao encontro do Papai do Céu quando a menina completava três anos, sendo assim criada pela avó D. Jacinta Garcia Benevides, sobre as fatalidades familiares ela me disse:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.

(...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.

(...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano."


Olhinhos de Gato, mais conhecida como Cecilia Meireles foi uma mulher sublime em sua vida, muito mais do que suas poesias cheias de detalhes que nos transportam ha um outro mundo rico em descrições ela foi mãe, mulher, companheira e batalhadora...lutou pela vida, pela poesia....por aquela palavra escrita que tanto encantou e encanta até hoje quem se dá a oportunidade de ler algum trecho, ou algum pedacinho do seu doce coração que é expremido em cada detalhe de sua rica obra. Falar sobre mulheres, e esquecer de Cecília Meireles, seria uma afronta contra o mundo da poesia, contra o nosso próprio Brasil. Resumir sua vida em um espaço virtual tampouco conseguiria colocar sua grandeza a prova, por isso, encerro aqui com um pedacinho da sua obra que de tão linda, me tira lágrimas dos olhos deixando uma sensação de aconchego e afeto em meu coração.

Improviso do Amor-Perfeito
Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.
Os sonhos foram sonhados, e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insônia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.
Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe,
atrás do oceano que nos meus se alteia
entre pálpebras de areia...
Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.

Cecília Meireles



Nota: Olhinhos de Gato é uma obra de Cecilia Meireles que retrata sua infância com a avó colocada na história como Dentinho de Arroz.

Um comentário:

  1. Eu sou apaixonada por esse livro da Cecília, e você conseguiu de forma bastante resumida, retratar todo o afeto e profundidade que faziam parte da vida dessa mulher.

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